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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Opinião: Vandalismo é não amar

por Rodrigo Szymanski 
- cocalcomunitario@gmail.com

No último final de semana, em Belo Horizonte, andando pela cidade, observei umas coisas que chamaram muito atenção. Primeiro, por eu ser do “interior”, a quantia de moradores de rua dormindo embaixo de marquises de prédios. Acho que isso é quase o cartão postal dos centros urbanos.

Contudo, o que mais me chamou atenção foram as “pichações” nas paredes. Pichações mesmo, de frases rebeldes. E como a rebeldia me chama atenção. Rebeldia destas que é ousada, por que não existe rebeldia sem ousadia e ousadia sem rebeldia. E lembrei-me dos discursos de “direita” nas manifestações de junho, que gritavam “sem vandalismo”. Olhando aquelas paredes com frases, ousadas e rebeldes, com uma sensação de vandalismo ao patrimônio, pensei que uma pichação por vezes é mais escandalosa e mais violenta para os olhos de uma classe media descomprometida que os moradores de ruas deitados em seus cobertores fedidos, fazendo da rua seu lar.

Muitas frases pinchadas eram de cunho rebelde e politizados. Bem, pelo menos eram em sua maioria indagações ou afirmações sobre temas polêmicos. Uma das frases “copa do mundo pra que?”. Um questionamento em um viaduto próximo a uma obra de uma estrada que provável esta em andamento para a Copa do Mundo, pois era caminho do aeroporto. Outro elemento era uma periferia muito próxima. É importante perceber o questionamento às grandes obras, que para muitos é desenvolvimento e avanço do progresso, para outros pode ser desnecessários.

Talvez eu seja um vândalo ao questionar as grandes obras, mas não é as grandes obras que são questionadas e sim o interesse das grandes obras de quem é? Logo mais a frente havia uma frase “chega de corrupção”, é possível ligar as grandes obras ao processo de corrupção? Sem dúvida alguma é em que é mais fácil desviar dinheiro e fazer amplos esquemas corruptos de desvio de dinheiro. Ainda nesta proximidade uma frase dizia “educação é prioridade”. Será? Para quem? Quais as condições de nossa educação? Qual o salário dos professores? E ai fica a pergunta: é mais fácil desviar dinheiro da educação ou de uma grande obra? E qual destas alternativas é mais importante e primordial para o povo?

É preciso analisar em que está o vandalismo? O vandalismo é o que “depreda” um patrimônio com uma frase questionadora ou os que desviam dinheiro? Por que para algumas áreas (grandes obras) existe tanto dinheiro e para outra (serviços básicos) sempre falta dinheiro?

Mas de todas as frases de vandalismo, a mais sensacional era a “o amor é importante porra” Vândalos com coração românticos. Por que vandalismo com amor é importante e essencial. E talvez é por que acreditam no amor que acabam vandalizando. Uma pena que os verdadeiros vândalos, que desviam dinheiro e não investem em saúde, educação, políticas sociais e moradia, não possuem nem um pouco de amor!

Vandalismo é ver gente dormindo na rua, consumindo crack a luz do dia. É olhar para a periferia e faltar todo tipo de estruturas. Vandalismo é achar que investir em obras, ruas, elefantes brancos é mais importante que o “bem viver”.

Precisamos de vândalos que pichem as paredes, que tenham ousadia em questionar, que não tenham medo de amar.

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