por Juliano Carrer
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Hoje queria trazer uma reflexão sobre o discurso que muitos usam a respeito das ciências naturais. Nestes discursos ela é colocada como algo essencial para tudo e para todos, justificando assim a necessidade de apreendermos elas. Creio que ao caminhar comigo nesta reflexão poderemos ampliá-la para além das ciências naturais, alcançando todas as outras ciências.
Como professor de física já ouvi muitos dizerem que a física está em tudo, que faz parte de tudo, que tudo é física. Bom, se tudo é física, então quem viveu e não aprendeu física não aprendeu nada? Aí é que está o problema mais grave deste discurso. Na tentativa de convencer o outro da importância e das contribuições que a física pode dar, impõe-se ela como essencial e se desrespeita todos os outros conhecimentos que a pessoa tem.
Já ouvi, por exemplo, uma pessoa falar "Para atravessar a rua se usa física. Com cálculos de distância, velocidade, tempo...". Como assim? Então quando eu era pequeno e atravessava a rua correndo eu já sabia física? Se for assim, porque fui ter aula de física depois no Ensino Médio e na faculdade se minha vida já é pura física? Um outro erro neste discurso. Ao tentar convencer as pessoas da sua importância acaba por desmerecer toda a contribuição que pode dar realmente.
Sou professor de física e acredito sim que ela é importante. Acredito sim que ela pode contribuir em muitas coisas. Mas não diria que ela é vital. Muitas experiência de povos existiram de forma muito mais harmônica que a nossa, sem a ciência como a temos hoje. Então não podemos dizer que sem ela não sobreviveremos. Ela, assim como tudo, é uma construção dos seres humanos e como tal tem sua importância.
É preciso que seu ensino seja vinculado realmente a sua capacidade de ajudar as pessoas e não com discursos que fazem da ciência como que uma deusa. Mostrar que ela pode sim contribuir para que nossa vida seja melhor (ou pior dependendo do uso). Trazer presente que vivemos numa sociedade em que ciência e tecnologia caminham juntas com nossas vidas e sua compreensão está vinculada a inclusão de nós mesmos a esta sociedade.
O diálogo entre ciência e vida deve ser feito expondo a verdadeira relação existente entre ambas.
Queria dar um exemplo sobre essa possível ajuda que a ciência pode dar as nossas vidas. Nessa semana na escola em que trabalho fiz uma pequena palestra falando da relação entre ciência e os esportes (futebol, artes marciais, mergulho...). O que me inspirou, inclusive, a escrever essa coluna de hoje. Nela eu conversava com os alunos sobre dois conceitos que a física desenvolveu. Resumidamente, um deles que é quantidade de movimento, diz da importância de dois fatores no impacto, por exemplo, do pé de um jogador com a bola de futebol. Que fatores são esses? Massa e velocidade. O que isso significa? Que se desejarmos chutar uma bola com mais intensidade podemos melhorar um deles, ou ambos. Logo ao chutar você pode, além de tentar fazer o movimento mais rápido, deslocar o seu corpo junto com o pé afim de que a massa do seu corpo seja usada também para impulsionar a bola.
Agora eu pergunto "novamente": É preciso saber física pra chutar uma bola? Não. Mas conhecer e aplicar ela pode ajudar a desenvolver chutes melhores.
É isso que defendo, um ensino honesto e com possibilidade de uso real pelas pessoas.
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