por Juliano Carrer
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As incoerências da nossa sociedade convivem diariamente conosco e nem sempre nos percebemos. Nesse final de semana estive viajando com alunos dos terceiros anos e passamos por Balneário Camboriú. Chegamos na sexta-feira. No sábado acordei mais cedo e fui dar uma volta na beira mar. Olhava para a praia e três moradores de rua estavam ao meu lado conversando.
Fomos então dar uma volta nos bondinhos aéreos. Vista incrível! No topo fizemos uma trilha ecológica com uma guia, ela falava que a área onde estávamos tinha sido desmatada e foi toda recuperada. Mas tinham duas atrações novas que passavam pelo meio da mata (tirolesa e outro de carrinho). Perguntei para a guia quantas árvores tinham sido cortadas para construí-los? Ela disse sorrindo: “algumas“.
Após o bondinho fomos a praia de laranjeiras e enquanto o pessoal contava o dinheiro para ver se dava de comprar um Churros, ao nosso lado, em outra mesa, vários caras pediam "combos" de champagne... No mesmo local fomos surpreendidos por um artista de rua que pintava com os dedos (em alguns minutos uma paisagem surgia magicamente).
À noite, na saída de um shopping, um morador de rua se aproximou e conversou conosco, falávamos sobre a Antártida, navios americanos, alemães... Até brincou comigo me chamando de filho do Amim, rimos muito...
Ao longo do final de semana, ao caminhar pelo balneário, vimos prédios enormes, placas nas imobiliárias colocando apartamentos a venda, valores impressionantes... 3, 4, 8 milhões. Se quiser até existem alguns em torno de 400 mil reais (mas muito pequenos). Se nos afastarmos um pouco da beira mar ainda se consegue encontrar uma casa ou outra “perdida“ na imensidão dos prédios.
À noite, quando estávamos indo embora de um Luau, outro artista de rua nos encontrou e declamou o grande mestre “Raul Seixas“:
"Ele ia andando pela rua meio apressado
Ele sabia que tava sendo vigiado
Cheguei para ele e disse: Ei amigo, você pode me ceder um cigarro?
Ele disse: Eu dou, mas vá fumar lá do outro lado"
Gritos diários de luta pela Vida surgem e estamos tão cegos que não os escutamos.
Porque a ausência de escuta?
Porque não nos indignamos com toda essa desigualdade?
Talvez devido ao treinamento diário que recebemos, nos levando a acreditar que todos podem ter o que quiserem, bastando trabalhar.
Ou quem sabe simplesmente ignoramos, pois se realmente enxergarmos a realidade teríamos que, por princípio humano, nos posicionarmos contra, mudando nossos estilos de Vida. Principalmente com nossas práticas diárias de viver pelo/para o dinheiro/acúmulo de riquezas.
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