segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Conto: Natal em Cocal...

por Rodrigo Szymanski
 - cocalcomunitario@gmail.com

Natal chegando à cidade de Cocal do Sul, toda praça iluminada pelo natal da cidade, casinha do Papai Noel sempre movimentada e trenzinho fazendo alegria da gurizada. A alegria movimenta a cidade, parece que o mundo está chegando ao fim de tanta euforia.

Porém ao calar da noite, na semana que precedia a grande festa de natal, quanto todos preparavam suas festas com roupas novas e banquetes, amigos secretos e trocas de presentes aconteciam em quase todas as famílias, empresas, grupos de amigos, chega um jovem casal de adolescentes, morenos, retirantes vindos de outra região. A jovem se encontra grávida em seus plenos 16 anos de idade. Com a mudança, apenas duas malas de roupas e o desejo da vida que nasce, vida esta que estava por vim, a qualquer momento poderá dar a luz a criança. Estavam abrigados em um pequeno quarto alugado, com um mau cheiro terrível. Ambos ainda desempregados.

Nas igrejas de várias denominações, placas com nomes referindo a Jesus e seus milagres. Um pastor gritava “Cocal do sul será consagrado ao espírito santo, e toda a cidade vai prosperar”. Todas as igrejas cheias, um presépio feito em outra igreja demonstrava toda beleza do natal e seu sentido.

O casal andava pela cidade em busca de emprego, a mulher cansada pelo sol que queimava e o calor típico, incomum as roupas de Papai Noel. Ela bate na porta de uma casa pedindo um copo d’água. A surpresa é grande quando a mulher já de meia idade sai na porta e pergunta “que vocês querem?”. A jovem gestante apenas responde “a senhora poderia me dar um copo d’água?”. A mulher, em seus direitos privados de não ser incomodada responde da porta: “será que vocês não têm água em casa, porco Dio”. O jovem pai que acompanhava sua esposa apenas agradece e segue o caminho. A jovem gestante chora de desespero, nada queria, além de matar sua sede.

Já chegando ao Centro da cidade, pediu ajuda a um senhor, que por ali se encontrava, e a resposta foi apenas “vai trabalhar seu vagabundo, onde já se viu, sustentar vagabundo” e saiu comentando “mas estes devem ser vagabundos sustentado pelo bolsa família”. Mal sabia aquele senhor cristão, que se dirigia a missa, que aquele casal nem sabia o que era Bolsa Família, faltava até as informações dos benefícios...

O sofrimento daquele jovem casal aumentava, já era noite de natal e podia se ver carros de papais noéis distribuído balas em vários lugares, se escutava o “noite feliz, noite feliz”. A cidade era apenas alegria... Não para aquele casal, nas vésperas de natal, as contrações do parto iniciaram, chamaram um táxi que se negou a levá-la ao hospital por falta de dinheiro para pagamento, as empresas de ônibus com o nome do pai de Jesus já não tinham mais horário, os vizinhos estavam ocupados com as confraternização natalinas, na prefeitura, ninguém de plantão, o padre estava celebrando a missa...

E aquela criança nasceu naquele quarto escuro, com odor de urina pelas péssimas instalações dos banheiros. A dor daquela mulher no parto era enorme e seus gemidos se perdiam no meio dos “ho ho ho, Papai Noel Chegou”. Estavam apenas eles três, o pai nada falava, a mãe exausta segurava o bebe em lágrimas, pois sabia que seu filho seria mais um devorado pelo individualismo, pelo espírito cruel do sistema e, acima de tudo, pelo egoísmo. Restava o silêncio e o julgamento dos moralmente cristão.

Talvez, não seja Jesus este menino, mas como podemos julgar que não seja? Jesus hoje nasce naqueles famintos, humilhados, excluídos... E nosso egoísmo pode matar Jesus a todo dia...


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