por Rodrigo Szymanski
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Nada mais nobre do que os aeroportos. Até anos atrás eram locais privilegiados por uma parcela elitizada da sociedade brasileira. Hoje, são locais movimentado, cheio de reclamações por causa das filas, aliás quem andou de avião anteriormente a Copa do Mundo sente a diferença com os aeroportos com menos filas, porém ainda faz parte dos usuários. Parcela delas, os famosos chavões: “este aeroporto esta um caos, onde vamos parar?”.
Sentar em um banco e observar uma parcela de classe média usufruindo da comodidade dos voos e rapidez faz pensar que o Brasil mudou muito. Sai de Brasília e ao meu lado se sentou uma senhora, cerca de 65 anos, nordestina, sotaque encantador, rosto moreno e sofrido, traços indígenas, brasileira nata. No voo muita gente engravatada e muitos jovens com cachecóis, mesmo no calor seco de Brasília, deveria ser alguma viagem de estudantes de colégio particular.
Do meu lado a senhora nordestina, dona Severina, nome típico das terras quentes do nordeste. Muito agitada e puxando muito papo. Dona Severina contou-me que chegou em no distrito federal no final da década de 1970 ou 1980, suas informações não foram precisas. Retirante nordestina tentando a vida na capital do Brasil, contou ela “3 filhos pequenos marido e alguns trapos chegamos na capital”. Trabalhou a vida toda de doméstica em casa de “doto”, seu marido já falecido trabalhava de porteiro em um prédio, no período noturno para “ganhar mais”.
Dona Severina perguntou o que fazia em Brasília, e se eu estudava, respondi que fazia pós graduação e logo respondeu “tem que estudar, tem que estudar tenho duas filhas que fizeram faculdade depois de casada com uma bolsa de estudo”. Sorri e expliquei que trabalhava na Cáritas uma organização da igreja católica e estava em um seminário sobre as imigrações e os refugiados no Brasil. A senhora logo disparou “tenho dois vizinhos haitianos, coitados sofrem tanto com o preconceito, mas qual o pobre que não sofre no Brasil?” respondi concordando com a senhora, e ela completou “ah mas também se tem emprego tem que da pros de fora”. Dizendo que era uma organização católica, dona Severina falou do Papa Francisco, “um santo este homem, vê si não parece com Padim Ciço (Padre Cicero)?”.
Fiquei curioso e perguntei para onde estava indo e se era a primeira vez que andava de avião. Dona Severina emendou um “oxiiiiii e não é? Antes andávamos de pau de arara, hoje estou me passando por gente importante”. Explicou que estava indo visitar o neto em São Paulo, que tem quase três anos e ainda não conhece.
Com a simpatia de dona Severina, perguntei o que ela achava de Dilma e do Aécio. “Ahh meu fio, entendo de política não, mas voto na Dilma, tá melhor pra gente né”. Sorridente, contou que em algum evento de Brasília chegou próxima do presidente Lula, exalava empolgação ao falar de Lula, um nordestino retirante.
Insisti em saber por que votaria em Dilma, já que dizem os “jornais que uma crise está próxima”. Dona Severina somente respondeu: “olha, o Lula foi um pai, garantiu minha primeira carteira assinada, duas filhas estudando, construí minha casinha depois de anos, a vida da gente mioro né”.
Dona Severina no aeroporto se despediu e convidou: “quando votar pra Brasília vá lá comer uma tapioca meu fio”.
Na espera do voo, fiquei pensando no mar de críticas aos nordestinos, com preconceitos e xenofobia, vindo de muita gente sulista com pensamento separatista. Pensei se não deveria ter dito para Dona Severina que o povo do sul precisava conhecer ela, lutadora, trabalhadora, migrante, pobre, alegre e pronta há partilhar o pouco que tem.
Aeroporto tem destas coisas, de encontrar pessoas, a maioria indiferente ao outro, porém muitos com histórias a serem contadas e refletida. Povo simples, nordestino, trabalhador, persistente merece todo meu respeito!
Linda história. Mais linda ainda por ser verdadeira. Me deu vontade de chorar. Lembrei-me da fala de uma professora outro dia que disse que esteve no Nordeste recentemente e lá só tem bandido " tem que rezar pra sair viva de lá" . Do hotel só saíamos de táxi por segurança a poucos quarteirões dali. Será exagero da sua parte ou preconceito mesmo? Pensei... já que nunca estive por lá.
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