segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Espaço Educação: O que entendemos por violência?

por Juliano Carrer 
- cocalcomunitario@gmail.com

Fico profundamente inquieto quando acusa-se algumas atitudes de violências no nosso cotidiano, sem que se faça uma leitura de mundo a respeito dessas atitudes. Como quando falam sobre trabalhadores que bloqueiam a entrada de suas empresas como metodologia de protesto. Como quando falam de pessoas que atacam a sede de uma revista por acreditarem que ela publicou inverdades. Como quando falam de pessoas que colocam fogo em ônibus a "mando" de presidiários. Como quando falam da redução da maioridade penal. Minha inquietude não é em defesa destes gestos e atitudes que são sim violentos. Minha inquietude vem na ausência no tipo de leitura de mundo das pessoas frente a esses acontecimentos.

Chama-se de violência absurda um trabalhador que se une a outros trabalhadores para exigir melhores condições de trabalho. Entretanto, não chama-se de violência a exploração que estes sofrem no dia a dia de trabalho.

Chama-se de violência quando pessoas atacam a mídia que publica boatos, mas não se chama de violência o fato de ela manipular as informações em defesa dos seus interesses, custe isso o que custar as pessoas.

Chama-se de violência quando pessoas colocam fogo em ônibus. Mas esquece-se que o sistema prisional brasileiro está em decadência e o que deveria ajudar a recuperar as pessoas acaba por criar mais ódio e rancor naqueles que se encontram encarcerados. Esquece-se também que o sistema prisional não deveria ser espaço de vingança e sim de recuperação. Chamamos de violência quando presos buscam nas maneiras que encontram de atingir o Estado melhores condições, mas não chamamos de violência a vingança presente em nossas almas na qual desejamos o sofrimento daqueles que cometeram erros.

Chama-se de violência quando um jovem rouba ou coloca em risco a vida de uma pessoa. Mas não chamamos de violência toda exclusão que este jovem sofreu ao longo da vida sendo totalmente desassistido pelo estado e por nós mesmos, que nada fazemos para mudar tal realidade.

É muito fácil acusar os outros de cometerem atos violentos e ignorar que atitudes como a fome e a injustiça social são tão ou até mais violentas.

Precisamos perceber os tantos atos violentos que cometemos diariamente e lembrar que Violência sempre gera mais violência.

E como última tentativa de refletir com você leitor/a pode-se trazer também, como exemplo, a escola. Nela, por vezes, acusamos os alunos de serem desrespeitosos, violentos, mas ignoramos as tantas e tantas vezes que suas vozes não são ouvidas.

Nem sempre a violência é física. É preciso perceber a violência simbólica presente em diversas atitudes nossas de cada dia.

É preciso perceber a violência simbólica cometida pelo sistema capitalista que vivemos onde alguns possuem 'tudo" e outros "nada".

Que a violência de cada dia não nos seja dada!

Um comentário:

  1. Acho interessante o teu comentário, Juliano. Está na ordem do dia. Diariamente ouso comentários desse tipo. Quase sempre, carregados de muito ódio, vingança e violência. Querem combater a violência com violência. Já se contradizem na própria forma como "debatem" o problema. Nestes dias, um dia após as eleições do 1º turno numa 2ª feira, alguém se dirigiu a mim dizendo "esses bandidos que estão colocando fogo nos ônibus e os presos que mandam deveriam ser todos colocados num paredão e fuzilados" " tem que matar tudo". Tentei argumentar contra, fazendo entender que o problema é bem mais complexo que se imagina, mas com o mesmo tom de ódio me xingou como se eu estivesse defendendo os atos deles. Detalhe: essa pessoa tinha acabado de participar de toda a semana do cerco de jericó e me cobrado porque eu não participei " tu não és católica????"

    ResponderExcluir

As manifestações aqui expressas são de cunho pessoal, ficando a responsabilidade do mesmo ao cidadão, que tem total liberdade de expressão.

Todos os comentários serão postados, desde que não contenham ofensas pessoais.