por Juliano Carrer
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Com a chegada do final de ano nas escolas começam a surgir pelos corredores e salas de aulas diálogos em torno das aprovações/reprovações. Mas não é sobre isso que queria conversar hoje, e sim do que percebo ao olhar nos olhos de meus colegas. Gostaria de, a partir da vida dos professores, pensar também a vida de outros trabalhadores.
Não é por acaso que todos temos pouco tempo de descanso. Não é por acaso que vivemos, por vezes, sonhando com as férias ou com a aposentadoria. Nossos trabalhos em geral não respeitam as pessoas com suas angústias e necessidades. De onde tiro essas afirmações? Da minha própria vivência enquanto professor.
É absurdo que ao chegar no fim do ano e ao olhar para meus colegas (e para mim também) eu enxergue pessoas que pouco dormem para poder dar conta das várias tarefas existentes. Uma professora até dizia: "Já faz uma semana que estou dormindo as 2h da manhã". Para quem acorda as 6h isso é barra pesada. Uma outra dizia com olhar muito triste: "Meus domingos nunca são meus, estou sempre corrigindo provas".
Sei que muitos vão ter um olhar de que a vida é assim mesmo, que devemos lidar com as coisas como elas são. Eu não concordo com isso! E se tiver forças, vou continuar discordando e lutando por toda a minha Vida. Ninguém deveria ter que trabalhar tanto... eu disse ninguém!
E o pior de tudo é que todo esse cansaço no caso do magistério poderia ser diminuído em muito se as escolas realmente tivessem autonomia para pensarem seus calendários escolares como está na LDB (Lei de Diretrizes e Base da Educação).
Temos que quase implorar para a SED (Secretaria de Educação) para que possamos ter uma ou duas reunião pedagógicas no ano. Se pudéssemos fazer mais "paradas" para refletirmos o caminhar da escola, com certeza seria melhor para os professores e para os alunos.
Muitos pais ao receberem um recado que teremos reunião pedagógica, dispensando os alunos naquele dia, consideram isso um absurdo, como se fosse preguiça da nossa parte, como se não quiséssemos trabalhar. Se enganam muito. Pois ao longo do ano são tantos desafios que enfrentamos em todas as escolas que se realmente tivéssemos mais tempo para no coletivo refletir essas situações conseguiríamos encontrar soluções melhores.
Muito se fala em interdisciplinaridade, mas a verdade: "Cada professor acaba fazendo seu trabalho individualmente". Se não temos tempo para planejar coletivamente qual a alternativa?
Se você tivesse que escolher entre apenas duas opções quais seriam?
- Menor quantidade de aulas, mas com mais qualidade.
- Maior quantidade de aulas, mas com menos qualidade.
Não venham dizer que querem a junção das duas? Impossível. Ninguém faz um bom trabalho se não para e reflete sobre.
A realidade: O sistema em que vivemos não deseja que nossos alunos/as tenham boas aulas. Não deseja que os trabalhadores tenham tempo para pensar. Na verdade, não deseja que ninguém pense a não ser quem manda no mundo.
Já pensou se os professores tivessem tempo para organizar um projeto interdisciplinar com todas as turmas sobre a sociedade de consumo em que vivemos... Eu já!
Como as coisas não são o que almejamos resta apenas uma coisa: LUTAR! Não desistamos, pois quando a desesperança toma conta, acreditem, nosso corpo e mente adoecem ainda mais. Quem luta, mesmo não conseguindo atingir seus objetivos sempre, sabe que está em busca, está caminhando. Quem desiste, para na vida. E temos muito o que viver ainda.
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