segunda-feira, 14 de julho de 2014

Espaço Educação: Da meia noite às seis

por Juliano Carrer 
- cocalcomunitario@gmail.com

Lembro como se fosse hoje, quando cursava minha graduação e um colega reclamou que não teria tempo para realizar uma atividade posta pelo professor. E qual foi a resposta do professor: "O que você faz da meia noite às seis?".

Em tom de brincadeira muito se diz.

Já escrevi nesta coluna um pouco sobre a tendência existente na sociedade de nos atarefar ao máximo e desvalorizar o descanso. O que quero fazer hoje é debater como essa lógica está presente nos cursos superiores e em algumas profissões. Não tenho interesse em atacar um curso em específico, entretanto vou começar minha reflexão com o curso de Medicina, pois foi a partir de uma conversa com uma estudante deste curso que refleti sobre o assunto. Nesta conversa fiquei assustado quando percebi que os estágios (chamadas residências) nos hospitais duram até 24 horas. Nos próprios hospitais existem camas para os médicos dormirem um pouco e continuarem trabalhando. Eu já soube de médicos que permaneceram três dias seguidos no hospital. Claro que podemos discutir várias questões a partir disso, como até que ponto existem médicos o suficiente, ou até que ponto os salários são adequados. Mas esse não é o foco do texto. Se na própria graduação exige tal postura de exagero de trabalho é claro que o incentivo será grande para que isto se perpetue.

Mas o problema não está apenas nessa profissão. Podemos enxergar isso também nas empresas que enchem seus funcionários de horas extras, muitas vezes "obrigatórias", visto a necessidade de produção. Chegam a fazer escalas de trabalho para as horas extras.

Em vez de se contratar mais funcionários e aumentar os salários, sobrecarrega-se cada vez mais os trabalhadores.

E não seria justo se não trouxesse essa lógica para a minha profissão. Afinal, no magistério também temos uma tendência ao exagero de trabalho. Já ouvi de um colega que enquanto tomava café ele corrigia provas. Pensei: "Como assim?". Se eu não tomo café com calma, se eu não curto esse momento, meu dia já começa ruim. É preciso saborearmos melhor nossas vidas.

E termino respondendo a pergunta do meu professor de graduação: da meia noite às seis eu durmo! E ainda é pouco, pois seis horas diárias não permitem ao meu corpo descansar suficientemente.

O convite que faço é irmos aos poucos mudando essa lógica. Talvez alguns digam que esse papo é papo de preguiçoso. Não é isso, acredito sim que todos temos que contribuir com a sociedade. Entretanto, acredito também que é possível sim trabalharmos menos.

Um bom trabalho a você.

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