por Davi Carrer
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A tribuna da Câmara de Vereadores de Cocal desta semana foi utilizada pelo munícipe Rodrigo Szymanski, representando o ICJ (Instituto Catarinense de Juventude), e pela vereadora Roseny Cittadin Barbosa, a Nega (PMDB).
Rodrigo, que é membro do ICJ, falou sobre violência e juventude baseada no mapa da violência, também destacou a importância de um conselho municipal de juventude para a cidade. Ele criticou a falta de programas ligados a juventude na cidade em todas as áreas e trouxe as falas de jovens do Bairro Jardim Elizabeth, que participaram do projeto "Conversação", do ICJ, que aconteceu em 16 cidades do estado.
Para finalizar, Rodrigo convidou a todos os vereadores para participar do 1º Fórum de Imigrações do Sul de Santa Catarina, que ocorre dia 28 de julho, em Criciúma.
Em sua fala, a vereadora Nega iniciou elogiando o pronunciamento do represente do ICJ e lembrando que em seu tempo de escola os grêmios estudantis realizavam trabalho de participação e debate dos jovens. Também notificou que um terceiro jovem na cidade está com leucemia, Peterson, de 21 anos. A campanha de doação de medula óssea agora vai incluir os três jovens. Nega lembrou que no dia 28 de julho o Hemosc estará na Unibave para coleta de 200 doadores. Sobre a Apae, a vereadora notificou que os alunos participaram da corrida rústica em Siderópolis. "Olhando os alunos da Apae superar os limite, foi uma grande lição de vida a todos que passavam ali", comentou a vereadora.
Confira o discurso de Rodrigo na íntegra:
Quero Saudar o povo presente nesta sessão, os vereadores e vereadoras. Hoje venho nesta tribuna me manifestar como membro do “Instituto Catarinense de Juventude” e militantes das causas sociais e juvenis.
Em minha militância, sempre fui ligado às questões juvenis, tanto que estou finalizando uma especialização em juventude. Sempre que posso escrevo “opiniões” sobre temas ligados à Juventude no Cocal Comunitário. Opiniões por vezes polêmicas, por sempre partir do princípio de defesa e luta por políticas públicas. Há que se deixar claro que quando saio em defesa da juventude, não estou “vitimizando” ou “passando a mão na cabeça”, sempre defendi os direitos e deveres.
No sábado, dia 5 de julho, um jovem morreu assassinado e outro foi parar no hospital baleado em Cocal, podemos dizer que foi um extermínio de jovens. Caso conhecido este, mas cabe aqui refletir sobre o tema. Jovem morto por um tiro. Olhando o facebook deste jovem, causa comoção os recados de amigos e amigas.
Não conheci este jovem em vida, por isso, não quero usar seu exemplo para condenar ou inocentar o mesmo, mas pego o caso como exemplo, pois é mais um jovem que perde a vida. Um jovem assassinado, mais um jovem exterminado. Muitas perguntas ficam: qual o motivo? Assassinato? Acerto de conta? Tráfico? Ah, o tráfico, o crime organizado, sempre eles promovendo um derramamento de sangue terrível, ceifando as vidas, não somente dos que morrem, mas das famílias, dos amigos...
O extermínio de jovens no Brasil é preocupante, e hoje não falo do Rio de Janeiro, ou de qualquer cidade grande, de uma capital, falo de Cocal do Sul, cidade do interior, com cerca de 16 mil habitantes, de classe média, de famílias trabalhadoras, cidade que não tem índices de misérias ou periferias, isso desmistifica o fator de que o crime organizado e a violência estão nas pessoas pobres.
Há cerca de dois meses, o ICJ (Instituto Catarinense de Juventude), realizou no Bairro Jardim Elizabeth uma “roda de conversa” e um jovem dizia “tenho medo de sair na rua”, medo da violência! Quero destacar algumas respostas dos jovens Na pergunta QUAIS MEDOS?, disseram:
- “ser assaltado”
- “ficar velho, porque velhos tem doença”
- “medo de morrer”
- “medo de morrer de acidente de carro”
- “medo de morrer cedo demais, de não ter feito faculdade, de não ter aproveitado a vida, de não ter filho”
- “medo de estupro”
- “de a polícia pegar os caras, porque as vezes o cara tá fazendo algo errado, dirigindo sem carteira”
- “medo de perder alguém da família, ou algum migo que a gente gosta muito”
- “medo de aranha”
- “acabar água no mundo”. (nesta resposta um jovem disse: "Ah mais isso aí é só daqui uns 30 a 40 anos")
QUE OUTROS PRECONCEITOS/VISÕES A GENTE PERCEBE DA SOCIEDADE PARA COM O/A JOVEM?. Eles tiveram dificuldade para falar e entender a pergunta, mas em seguida disseram:
- “de achar que jovens são todos iguais”
- "de que tem tudo a mesma ideia, mesmo jeito de pensar"
- “Que são todos delinquentes”
- “não acreditam que podemos mudar o futuro” (em resposta a essa fala uma outra jovem disse que "ultimamente muitos jovens não passam essa visão de que querem mudar e o que outros fazem refletem na gente”
- "acham que a gente não pode ter opinião própria. Dai uma coisa puxa a outra. Eles acham que a gente não tem opinião própria, dai são todos iguais, se um é delinquente todos são delinquentes, dai que já puxa que não pode mudar o futuro"
- “hoje quanto se vê dois meninos de boné ou toca de cara já dizem que são bandidos.
- "e a menina com bermuda curta de mais, já pensam que são...”
Gostaria de refletir sobre Violência e Juventude, partindo do Mapa da Violência que saiu há dias atrás. “Não acreditamos que a juventude seja produtora de violência. As novas gerações, mais que fatores determinantes da situação de nossa sociedade, são um resultado da mesma, espelho onde a sociedade pode descobrir suas esperanças de futuro e também seus conflitos, suas contradições e, por que não, seus próprios erros”.
A aprovação em agosto de 2013 da Lei nº 12.852, institui o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os direitos dos jovens. Em seu art. 1º, § 1º estabelece que são considerados jovens as pessoas entre 15 e 29 anos de idade. Segundo recentes estimativas, para o ano de 2012, o país contava com um contingente de 52,2 milhões de jovens na faixa dos 15 aos 29 anos de idade. O quantitativo representa 26,9% do total dos 194,0 milhões de habitantes. Em 2012, dos 77.805 óbitos juvenis registrados pelo SIM, 55.291 tiveram sua origem nas causas externas, fazendo esse percentual se elevar de forma drástica: em 2011 acima de 2/3 de nossos jovens – 71,1% – morreram por causas externas.
Com 19, 20, 21 anos temos as maiores taxas de violência de jovens no Brasil, 19 73,0 5,8 36,6 115,3 20 76,3 5,2 37,2 118,7 21 75,0 6,2 42,8 124,0
O brutal incremento dos homicídios a partir dos 13 anos de idade: as taxas pulam de 4,0 homicídios por 100 mil para 75,0 na idade de 21 anos. A partir desse ponto, há um progressivo declínio. Nessa faixa jovem, são taxas de homicídio que nem países em conflito armado conseguem alcançar. A partir dos 19 anos de idade, e até os 26, as taxas de mortalidade violenta ultrapassam os 100 óbitos por 100 mil jovens. Santa Catarina tem um dos menores numero de Homicídio do Brasil, mas ainda possui um total de 816 em 2012. o número de homicídios praticamente estagna nas capitais, mas continua crescendo significativamente fora delas. As taxas juvenis, em 2012, mais que triplicam as do resto da população. Fica evidente que os homicídios juvenis explicam uma parcela significativa do crescimento da violência no período. Em 2012, os jovens de 15 a 29 anos de idade representavam 26,9% do total dos 194,0 milhões de habitantes do País, mas foram alvo de 53,4% dos homicídios.
Conversando com uma amiga, que é advogada do Centro de Referência de Direitos Humanos de Curitiba, a Mari Malheiros, ela dizia: “Mas Rodrigo, você leu os dados do mapa da violência? Tá complicado o interior, nas capitais diminuiu os índices de violência, mas no interior aumentou a violência. Como há concentração de recursos de politicas públicas nas capitais, no interior o crime organizado está se organizando melhor. Esse papo de interior sem violência é papo mesmo. O que se precisa é de mais investimentos no interior, em políticas públicas, não em PM”. O mapa da violência, lançado a semana que passou, destaca que nas cidades de 10 a 20 mil habitantes a violência subiu 16%. O Mapa ainda revela que “é possível verificar que a evolução recente dos homicídios tomou rumos diferentes aos experimentados pelas Unidades Federadas, evidenciando que os polos dinâmicos da violência homicida já não são patrimônio das grandes capitais. Com 18.917 homicídios em 2002, o total das capitais cai para 17.800 em 2012, o que representa um decréscimo de 5,9% na década, contra 13,4% de aumento nas UF” de 2003/2012. Nesse período as taxas das capitais recuam de forma clara e sistemática, passando de 46,1 homicídios por 100 mil para 38,5 em 2011, o que representa uma queda de 16,4% no período. Já os índices do interior continuam crescendo a bom ritmo: 35,7%. Dessa forma, o interior assume claramente o papel de polo dinâmico, motor da violência homicida, contrapondo se às quedas substantivas nas taxas que as capitais estariam gerando.
O crime organizado em nossa cidade cresce, não por índices ou dados oficiais, mas é sair na rua e conversar com um ou outro e sabemos. Estes dia um jovem foi preso pela polícia federal por tráfico em Cocal do Sul.
Agora sobre as dores de saber que jovens são mortos, assassinados, exterminados em nossa cidade, quais as medidas que serão tomadas? Policiamento e câmeras de segurança não resolverão os problemas da violência e do crime organizado, é preciso tomar medidas profundas e radicais de mudanças nas estruturas educacionais, sociais e cultural.
E cabe perguntar quais os projetos que temos na cidade para a juventude? Quando falamos em bolsa atleta, um ótimo projeto que desdo ano passado o vereador Volnei vem falando e que o vereador Henrique sabe da importância de projetos esportivos para a juventude e adolescência, porém me preocupa que se pense um projeto para alguns atletas apenas, claro que é necessário fortes incentivos, mas cabe projetos esportivos, e por projetos esportivos temos as diversas áreas. Corremos risco de quando falar em esporte investirmos apenas em campo, quadra e esquecer dos profissionais para realizar o trabalho.
Nossas questões culturais? Quando falamos de cultura lembremos apenas das culturas de origem italianas, polonesa, mas parta a maioria da juventude isso não faz sentido. Teatro, dança, bandas de rock, pagode, rap fazem parte da cultura juvenil. E infelizmente hoje não temos nada disso, bom exemplo foi da cocal fest e do natal luz cdl de dar oportunidade as bandas, e por que não um espaço onde os jovens possam dançar, fazer teatro, tocar suas musicas?
Dos projetos sociais, ainda na outra administração uma pessoa me disse que em cocal não iria mais ter Pro jovem, pelo fato de que não se tinha publico, e fiquei a pensar um projeto como o do pro jovem sem publico ou sem interesse de ir buscar os jovens ????
Das questões de educação creio que é preciso muitas mudanças, fui professor ano passado aqui na cidade e sabemos das dificuldades na educação, mas precisamos avançar nas metodologias, e acho que a vereadora Angela quando falava semana passada da proposta de ensino integral devem ser levado ao debate mais profundo. As escolas possuem grades, jovens são presos para não fugir? Será que isso diz algo? Claro que o problema da educação não é somente nosso. Mas precisamos sim mudar o jeito de fazer educação.
Se pararmos para pensar nas questões da saúde da juventude, também nada temos em especifico para juventude. O vereador Sidney pode dizer da importância de projetos para saúde em todos os âmbitos da vida, e por que não um projeto especifico para a juventude? Estive em novo Hamburgo e la eles possuem um programa de orientação sexual para adolescentes, feito por adolescentes mesmo.
E por ultimo falo da importância de um conselho municipal de juventude, pensado e realizado pela juventude, por que politicas publicas devem ser debatidas com a juventude, infelizmente se pensa que a juventude precisa disso ou daquilo, mas não se escuta a juventude. Um conselho de juventude pode ser o espaço de ampliar os debates sobre juventude com a juventude.
CAPÍTULO III DOS CONSELHOS DE JUVENTUDE
Art. 45. Os conselhos de juventude são órgãos permanentes e autônomos, não jurisdicionais, encarregados de tratar das políticas públicas de juventude e da garantia do exercício dos direitos do jovem, com os seguintes objetivos:
I - auxiliar na elaboração de políticas públicas de juventude que promovam o amplo exercício dos direitos dos jovens estabelecidos nesta Lei;
II - utilizar instrumentos de forma a buscar que o Estado garanta aos jovens o exercício dos seus direitos;
III - colaborar com os órgãos da administração no planejamento e na implementação das políticas de juventude;
IV - estudar, analisar, elaborar, discutir e propor a celebração de instrumentos de cooperação, visando à elaboração de programas, projetos e ações voltados para a juventude;
V - promover a realização de estudos relativos à juventude, objetivando subsidiar o planejamento das políticas públicas de juventude;
VI - estudar, analisar, elaborar, discutir e propor políticas públicas que permitam e garantam a integração e a participação do jovem nos processos social, econômico, político e cultural no respectivo ente federado;
VII - propor a criação de formas de participação da juventude nos órgãos da administração pública;
VIII - promover e participar de seminários, cursos, congressos e eventos correlatos para o debate de temas relativos à juventude;
IX - desenvolver outras atividades relacionadas às políticas públicas de juventude.
Estamos debatendo alternativas de superação a violência, drogas, crime organizado? Ou somente choramos as vítimas destes?
Aqui, não é tempo de criminalizar, buscar o culpado, e sim as alternativas para mudarmos o paradigma social de medo e violência. E como diz a campanha da Pastoral da Juventude da igreja católica “Chega de violência e extermínio de jovens, a Juventude quer viver”.
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