segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Espaço Educação: Espelho de classe... O que existe por trás?

colaborador Juliano Carrer
 - cocalcomunitario@gmail.com

Quem de nós educadores/as nunca se deparou com uma sala de aula na qual fosse difícil trabalhar? Muitas e muitas vezes... Acertei na resposta? Bom, quero dialogar sobre uma das alternativas que geralmente é utilizada para resolver essa situação: O espelho de classe!

Nele os educadores e educadoras, e por vezes a direção da escola, escolhe os lugares que os educandos e educandas irão sentar. Fico me perguntando que direito temos de fazer isso? Estaríamos sendo autoridade ou autoritários com essa prática? Creio que a segunda opção está correta... Mas vamos continuar com o diálogo, talvez cheguemos a algum lugar juntos/as.

Bom, na reflexão que faço, percebo que quando trocamos os educandos/as de lugar estamos tentando resolver o “nosso problema”, estamos tentando facilitar as nossas vidas enquanto educadores/as... Todos/as sabemos que muitos de nós somos “obrigados” a cumprir jornadas de trabalho muito intensas e que nos sobrecarregam... Sobrecarrega tanto que por vezes optamos por tentar resolver nossos problemas da maneira mais rápida e fácil. Em vez de tentarmos pensar alternativas de fazer com que nossos educandos/as respeitem o ambiente escolar partimos para atitudes de controle, em que impedimos eles, por exemplo, da simples liberdade de escolher onde irão sentar. Fazemos isto, pois por vezes não somos capazes de fazer com que eles/as participem das nossas aulas... Se o “gurizão” não está a fim de ouvir nossa aula e fica conversando com o/a colega trocamos os dois de lugar... Colocamos ambos em lugares estratégicos, onde não terão muito o que conversar com os colegas do lado, enfim, obrigamos ambos a “observarem” nossas aulas. Sei que a sobrecarga é grande e pensar aulas atraentes por vezes chega a ser impossível nas condições atuais. Mas pessoal, estamos atacando aos que menor culpa possuem nisso tudo. Deveríamos perceber que toda essa sobrecarga e impossibilidade de melhorar nossas aulas possuem raízes em questões estruturais da sociedade em que vivemos. Mas quanto a isso poucos fazem algo! E mais uma vez, atacamos educandos e educandas.

Fico me perguntando até que ponto esta prática leva educandos e educandas a se constituírem cidadãos/ãs. Quando penso na resposta sempre me vêm à cabeça que esta prática em nada ajuda “nossos” educandos/as a atingirem esse objetivo. Ao contrário, vejo que agindo assim adaptamos eles/as ainda mais a um mundo no qual o patrão manda e os empregados obedecem.

Não damos nem a oportunidade de que estes/as educandos/as falem o que pensam e discutam de igual para igual. Sempre vamos com todo um discurso pronto e bem elaborado por anos, enquanto eles por vezes possuem um discurso ainda não bem elaborado, mas cheio de verdades. Queria ver uma conversa dessas...

Chamamos os educandos/as de imaturos/as, mas o que fazemos para que eles/as deixem de ser imaturos/as? Controlamos eles/as? Isto resolve a nossa vida ou a vida deles/as?

Prefiro pensar como a Elisa, e acreditar que só possuem sentido uma causa quando ela é feita eticamente, e ser ético exige respeito acima de tudo.
 [...]Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau. Dirão: “É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal”. E eu direi: “Não admito, minha esperança é imortal”. E eu repito: “Ouviram? IMORTAL!”
Sei que não dá para mudar o começo. Mas, se a gente quiser, vai dar para mudar o final![...]
(Elisa Lucinda)

Fica aqui meu solidário abraço!

Um comentário:

  1. Bom dia!
    Já havia me questionado sobre o espelho de classe, pois na escola onde trabalho, ele existe. No entanto, ele tem êxito nas primeiras semanas, posteriormente é necessário se reelaborar para mudar os alunos de lugar novamente e evitar a desordem, neste sentido funciona. Os alunos são obrigados a sair da aba do colega e caminhar com as próprias pernas, se sobressair e se destacar por mérito próprio. No entanto, me questiono se estamos sendo leais ao que tanto pregamos, sermos educadores tolerantes, formadores de cidadãos críticos e reflexivos para atuarem na sociedade. Se estamos colocando-os em um regime de autoritarismo, onde forçamos os educandos a sentarem-se onde bem entendermos, sem perguntamos o que eles acham, sem ouvirmos sua versão, impondo-os regras e enfiando goela abaixo. As vezes acho que é necessário, outrora, penso no que isso irá influenciar nos alunos posteriormente, tornado-os pessoas autoritárias, incapazes de escutar o próximo, prevalecendo suas vontades, tendo em vista que nossas atitudes influencia na formação dos mesmos. Enfim, as vezes nos afastar dos amigos é como jogar um balde de água fria e o que era para ser a solução passa a ser a causa de todos os problemas. E se não houvesse o espelho de classe? Qual seria o resultado dos alunos? Estamos sendo fieis ao que pregamos? Estamos interferindo na vida social dos alunos? E se fizermos diferente? São várias perguntas sem respostas...

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