segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Espaço Educação: Você é favorável ou contra o ENEM?

por Juliano Carrer 
- cocalcomunitario@gmail.com

Exame Nacional do Ensino Médio, ENEM. Que "bixo" é esse e quais suas intenções?
A pergunta pode parecer estranha de início. Mas como tudo em nossa vida as coisas/pessoas sempre possuem intencionalidades. E no caso, no ENEM isso não seria diferente.

Inicialmente ele foi criado apenas para avaliar a educação do Brasil e aos poucos vem se tornando também exame de ingresso ao ensino superior. Gosto sempre de falar daquilo que de certa forma tive experiências e que sobre o ENEM tenho duas grandes vivências. A primeira é enquanto aluno do terceiro ano do Ensino Médio, quando na época fiz o ENEM para me preparar melhor para depois realizar outros vestibulares. E o outro contato é enquanto professor de Física, em que acabo por analisar as provas de cada ano.

A grande mudança que venho percebendo: Cobra-se menos interpretação nas provas atuais. Por mais que a mídia inflame constantemente que o ENEM é uma prova puramente interpretativa, tenho visto que em algumas questões se exige fortemente conteúdos vistos tradicionalmente em sala de aula. Agora, já que estamos falando de intencionalidade, a pergunta para isso seria: Porque?

Bom, é evidente que existe certo descontentamento de alguns com essa prova. Basta acompanharmos as notícias relacionadas (vazamentos, provas mal aplicadas, redações mal corrigidas...). E alguém lembra de alguma notícia de vazamento ou de problemas em outros tipos de provas/vestibulares? A alguns anos lembro muito bem quando na sala de professores conversávamos sobre a anulação de 5 questões de um vestibular aqui da região sul, pois tinham colocado na prova questões que já haviam sido utilizadas. A mídia local deu pouca importância para isso.

Imagine se você fosse dono de uma rede de escolas ou cursinhos pré-vestibulares em que o material didático e os professores estejam preparados para treinar os alunos para fazerem as questões do vestibular e de repente surge o ENEM como uma possível alternativa aos vestibulares. Significa mudar toda a lógica de funcionamento deles. Pois se no ENEM o foco não é a "decoreba", mas sim a capacidade de raciocinar, de pensar, como vamos treinar os alunos para isso? Aí é que está o problema, escola de verdade não treina ninguém e os cursinhos e as ditas "escolas" que preparam para o vestibular treinam. Perderiam assim o sentido de existência!

A cada ano existe pressão para acabar com o ENEM. E não tem sido pouca pressão. Não conseguiram acabar com ele, mas aos poucos estão conseguindo mudar a sua lógica. Um dos meus medos: que daqui a pouco o ENEM vire um grande vestibular em nível nacional.

Não sou contra a exigência de conteúdos na prova do ENEM. Mas é importantíssimo que esses conteúdos sejam aleatórios e que se avalie mais a capacidade de pensar do que de decorar as coisas. Sendo assim, as escolas poderão ter mais liberdade de ensinar para a vida e discutir temas da realidade em que vivem. Sem terem que ficar presas aos conteúdos que serão cobrados no vestibular ou no ENEM.

Respondendo a pergunta inicial do texto: Penso que o ENEM tem por intenção analisar as competências dos alunos, entretanto essa análise corre risco quando pressionada pela "máfia" das redes privadas de "ensino".

Adoro perguntas, e por isso termino com algumas delas e um pensamento de Rubem Alves:
Quem mais se beneficia com o fim do ENEM? Quem mais se beneficia com o ENEM?
"Eu fizera uma proposta insólita e aparentemente absurda: de que os vestibulares fossem substituídos por um sorteio. Mostrei que, com o sorteio, os inúteis e caros cursinhos desapareceriam. Mostrei ainda que o sorteio libertaria as escolas de sua escravidão aos padrões de conhecimento impostos pelos vestibulares, ficando então livres para verdadeiramente educar. E, ao final, indiquei que o sorteio quebraria a "opção preferencial pelos ricos" que caracteriza o atual sistema, dando chance aos pobres" (Rubem Alves).



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